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Clint Eastwood por Adam Tanner

Clint Eastwood é mais que conhecido por representar personagens durões e intransigentes e por ter desenvolvido a direção como segunda carreira. Mas ele tem outra paixão que costuma receber menos atenção: o jazz. O astro de 77 anos dirigiu uma cinebiografia de Charlie "Bird" Parker em 1988 e agora está produzindo um documentário sobre o pianista Dave Brubeck. Ele próprio, pianista que recebeu um doutorado honorário em música do Berklee College of Music, conversou com a Reuters sobre seu interesse pelo jazz, que data de sua juventude na região de San Francisco nos anos 1940.
Reuters - Quando começou sua paixão pelo jazz? Clint Eastwood - Amo a música e já a amava quando era garoto. Eu sempre estive fora do "mainstream", embora o jazz fosse mais "mainstream" nos anos 1940. Naquela época o jazz tinha uma popularidade tremenda, mas eu estava sempre à procura de algum músico pouco conhecido para seguir. Acho que primeiro foi Lester Young quem eu achava o máximo, depois Charlie Parker, depois Dave Brubeck.
Reuters - Você já trabalhou em vários documentários que destacam figuras lendárias do jazz. O que o atrai para esses trabalhos? Clint Eastwood - Estou interessado em promover essa grande forma de arte americana, uma forma de arte verdadeiramente americana. Gosto de todos os tipos de música. Gosto da música clássica, do country, de qualquer tipo de música. Talvez eu não seja louco por rap, mas de modo geral posso tolerar qualquer tipo de música.
Reuters - Alguma vez você quis ser músico? Clint Eastwood - Quando eu era garoto eu tocava muito, mas depois me afastei disso e virei ator. Acho que fui para onde eu deveria ir. Sempre é possível olhar para trás e dizer 'poderia ter estudado mais'. Eu poderia dizer isso sobre o trompete, que também toquei um pouco.
Reuters - Li uma entrevista sua de 1985 em que você disse que lamentava não ter ido a fundo na música. Clint Eastwood - É verdade. Você ouve (os pianistas) Bill Evans e Art Tatum, todo esse pessoal, e se pergunta se poderia ter feito isso.
Reuters - Você tocou num bar em Oakland no final dos anos 1940? Clint Eastwood - Sim, toquei no Omar Club on Broadway. Toda vez que ia lá e tocava, eu podia comer e tomar cerveja de graça e recebia gorjetas.
Reuters - Existe um denominador comum para o sucesso no cinema e no jazz? Clint Eastwood - Os músicos precisam todas as noites se apresentar diante do público. Imagino que em algumas noites você não tenha vontade. Quando você dirige filmes, alguns dias você sente 'não estou com vontade de fazer isso hoje', mas tem que ir e se preparar para isso. É o mesmo tipo de coisa que acontece com qualquer artista que se apresenta. Miles Davis e Dave Brubeck são nomes que hoje aparecem em todas as listas de maiores da história do jazz. Em breve, os dois também passarão a integrar outra lista: a dos músicos retratados pelo cinema. O trompetista, pai do clássico "Kind of Blue", será o tema de uma cinebiografia estrelada por Don Cheadle, ótimo ator de filmes como "Crash" e "Hotel Ruanda". Cheadle também será o diretor e o produtor do projeto, e o roteiro ficará nas mãos de Stephen J. Rivele e Chris Wilkinson, que juntos já escreveram as cinebiografias “Nixon” e “Ali”. Cheadle parece ser o intérprete ideal para viver um personagem tão complexo, que transformou a história do jazz com suas experimentações, se afundou em heroína e cocaína e morreu em 1991, precocemente, aos 65 anos. Ainda não há previsão para início das filmagens. E deve demorar um pouco, já que Cheadle está envolvido em ao menos outros dois projetos neste ano. Dirigirá e estrelará um romance policial de Elmore Leonard e será o protagonista de “Toussaint”, filme sobre um líder revolucionário haitiano, dirigido por Danny Glover. Já o pianista Dave Brubeck, autor de composições históricas como “Blue Rondo a la Turk”, será o tema de um documentário com produção-executiva de Clint Eastwood. O filme, com direção de Bruce Ricker, mesclará informações sobre a trajetória de Brubeck com cenas de seu mais recente trabalho, uma peça composta especialmente para a abertura do festival de jazz de Monterey do ano passado. Ricker não é um novato no ramo. Já produziu um documentário sobre Thelonious Monk e atualmente filma outro sobre o cantor Tony Bennett, longa em que Clint também está envolvido, como produtor e condutor das entrevistas com Bennett. Vale lembrar ainda que o diretor de “Cartas de Iwo Jima” já foi o responsável por uma das grandes biografias no cinema: “Bird”, em que Forest Whitaker, como o saxofonista Charlie Parker, teve a melhor interpretação de sua carreira. Além de produzir o filme sobre Brubeck, Clint assumiu uma cadeira no comitê honorário para preservação da obra do pianista na Universidade do Pacífico, na Califórnia. Clint sobre Brubeck: “Ele continua a fazer contribuições significativas para a música, introduziu uma nova geração ao mundo do jazz e continua a explorar a linguagem internacional da música”. Impossível discordar.